Primário e Secundário: Uma Abordagem Completa
Introdução
O hipogonadismo é uma condição clínica caracterizada pela produção inadequada de hormonas sexuais, como a testosterona nos homens e o estrogénio nas mulheres. Essa deficiência pode resultar de disfunções nas gônadas (hipogonadismo primário) ou no eixo hipotálamo-hipófise (hipogonadismo secundário). Este artigo aborda as causas, sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento atualizado dessas condições, com base em evidências recentes.
Hipogonadismo Primário
Definição e Fisiopatologia
O hipogonadismo primário, também conhecido como hipergonadotrófico, ocorre quando há uma disfunção direta nas gônadas (testículos ou ovários). Isso leva à redução na produção de hormonas sexuais e ao aumento compensatório das gonadotrofinas (FSH e LH) devido à falta de retroalimentação negativa.
Causas
- Síndrome de Klinefelter (47, XXY): A causa genética mais comum de hipogonadismo primário em homens, associada à atrofia testicular e infertilidade.
- Orquite pós-infecciosa: Infecções virais, como a Parotidite epidémica (papeira), podem causar inflamação testicular e danos permanentes.
- Trauma ou cirurgia testicular: Lesões físicas ou procedimentos cirúrgicos podem comprometer a função gonadal.
- Tratamentos oncológicos: Quimioterapia e radioterapia podem induzir falência gonadal.
- Doenças autoimunes: Como a Orquite autoimune, que pode levar à destruição do tecido testicular.
Sinais e Sintomas
- Homens:
- Redução da libido e disfunção erétil.
- Perda de massa muscular e força.
- Aumento da gordura corporal, especialmente na região abdominal.
- Ginecomastia (desenvolvimento de tecido mamário).
- Infertilidade e redução do volume testicular.
- Sintomas psicológicos, como depressão e fadiga.
- Mulheres:
- Amenorreia (ausência de menstruação) ou irregularidades menstruais.
- Secura vaginal e dor durante o ato sexual.
- Redução da libido.
- Osteoporose devido à deficiência de estrogênio.
- Sintomas vasomotores, como ondas de calor.
Diagnóstico
- Exames laboratoriais:
- Níveis elevados de FSH e LH.
- Níveis baixos de testosterona (homens) ou estrogénio (mulheres).
- Exames de imagem:
- Ultrassom testicular ou ovariano para avaliar a estrutura gonadal.
- Avaliação genética:
- Cariótipo para identificar síndromes como Klinefelter.
Tratamento
- Terapia de reposição hormonal:
- Homens: Gel de testosterona, injeções ou adesivos transdérmicos.
- Mulheres: Estrogénio e progesterona para aliviar sintomas e prevenir osteoporose.
- Acompanhamento psicológico:
- Apoio emocional para lidar com infertilidade e mudanças corporais.
- Preservação da fertilidade:
- Em casos de tratamentos oncológicos, pode-se considerar o congelamento de espermatozoides ou óvulos.
Hipogonadismo Secundário
Definição e Fisiopatologia
O hipogonadismo secundário, ou hipogonadotrófico, resulta de uma disfunção no eixo hipotálamo-hipófise, levando à produção insuficiente de gonadotrofinas (FSH e LH). Isso resulta em níveis baixos de hormonas sexuais, mas com FSH e LH também reduzidos.
Causas
- Tumores hipofisários: Adenomas podem comprimir ou destruir células produtoras de gonadotrofinas.
- Síndrome de Kallmann: Distúrbio genético caracterizado por hipogonadismo e anosmia (perda do olfato).
- Doenças sistêmicas:
- Obesidade e síndrome metabólica.
- Diabetes Mellitus.
- Doenças crónicas, como insuficiência renal ou hepática.
- Uso de opioides: O uso crónico de opioides suprime o eixo hipotálamo-hipófise.
- Deficiências nutricionais: Desnutrição ou distúrbios alimentares podem afetar a função hormonal.
Sinais e Sintomas
- Homens:
- Sintomas semelhantes ao hipogonadismo primário, mas com testículos de tamanho normal ou reduzido.
- Perda de pêlos corporais e faciais.
- Fadiga crónica e redução da energia.
- Mulheres:
- Amenorreia ou irregularidades menstruais.
- Secura vaginal e redução da libido.
- Osteoporose e aumento do risco de fraturas.
- Ambos os sexos:
- Sintomas psicológicos, como depressão e ansiedade.
- Redução da densidade óssea e aumento do risco de osteoporose.
Diagnóstico
- Exames laboratoriais:
- Níveis baixos de FSH, LH e hormonas sexuais.
- Avaliação de prolactina (para descartar hiperprolactinemia).
- Exames de imagem:
- Ressonância magnética da hipófise para identificar tumores ou anomalias estruturais.
- Avaliação clínica:
- História médica detalhada, incluindo uso de medicamentos e presença de doenças sistêmicas.
Tratamento
- Correção da causa subjacente:
- Remoção cirúrgica de tumores hipofisários.
- Tratamento de doenças sistémicas, como diabetes ou obesidade.
- Terapia de reposição hormonal:
- Homens: Testosterona.
- Mulheres: Estrogénio e progesterona.
- Estimulação gonadal:
- Em casos de infertilidade, pode-se usar gonadotrofinas exógenas para induzir a espermatogênese ou ovulação.
- Modificação do estilo de vida:
- Perda de peso, dieta equilibrada e exercícios físicos para melhorar a sensibilidade hormonal.
Conclusão
O hipogonadismo, seja primário ou secundário, é uma condição multifatorial que pode afetar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas, aliado a uma abordagem diagnóstica e terapêutica adequada, é essencial para minimizar complicações e melhorar os resultados clínicos. Avanços recentes na terapia hormonal e no manejo de doenças subjacentes têm proporcionado melhores perspetivas para os pacientes.
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