Hipogonadismo Masculino e Feminino

Primário e Secundário: Uma Abordagem Completa

Introdução

O hipogonadismo é uma condição clínica caracterizada pela produção inadequada de hormonas sexuais, como a testosterona nos homens e o estrogénio nas mulheres. Essa deficiência pode resultar de disfunções nas gônadas (hipogonadismo primário) ou no eixo hipotálamo-hipófise (hipogonadismo secundário). Este artigo aborda as causas, sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento atualizado dessas condições, com base em evidências recentes.

 

Hipogonadismo Primário

Definição e Fisiopatologia

O hipogonadismo primário, também conhecido como hipergonadotrófico, ocorre quando há uma disfunção direta nas gônadas (testículos ou ovários). Isso leva à redução na produção de hormonas sexuais e ao aumento compensatório das gonadotrofinas (FSH e LH) devido à falta de retroalimentação negativa.

Causas

  1. Síndrome de Klinefelter (47, XXY): A causa genética mais comum de hipogonadismo primário em homens, associada à atrofia testicular e infertilidade.
  2. Orquite pós-infecciosa: Infecções virais, como a Parotidite epidémica (papeira), podem causar inflamação testicular e danos permanentes.
  3. Trauma ou cirurgia testicular: Lesões físicas ou procedimentos cirúrgicos podem comprometer a função gonadal.
  4. Tratamentos oncológicos: Quimioterapia e radioterapia podem induzir falência gonadal.
  5. Doenças autoimunes: Como a Orquite autoimune, que pode levar à destruição do tecido testicular.

Sinais e Sintomas

  • Homens:
    • Redução da libido e disfunção erétil.
    • Perda de massa muscular e força.
    • Aumento da gordura corporal, especialmente na região abdominal.
    • Ginecomastia (desenvolvimento de tecido mamário).
    • Infertilidade e redução do volume testicular.
    • Sintomas psicológicos, como depressão e fadiga.
  • Mulheres:
    • Amenorreia (ausência de menstruação) ou irregularidades menstruais.
    • Secura vaginal e dor durante o ato sexual.
    • Redução da libido.
    • Osteoporose devido à deficiência de estrogênio.
    • Sintomas vasomotores, como ondas de calor.

Diagnóstico

  • Exames laboratoriais:
    • Níveis elevados de FSH e LH.
    • Níveis baixos de testosterona (homens) ou estrogénio (mulheres).
  • Exames de imagem:
    • Ultrassom testicular ou ovariano para avaliar a estrutura gonadal.
  • Avaliação genética:
    • Cariótipo para identificar síndromes como Klinefelter.

Tratamento

  • Terapia de reposição hormonal:
    • Homens: Gel de testosterona, injeções ou adesivos transdérmicos.
    • Mulheres: Estrogénio e progesterona para aliviar sintomas e prevenir osteoporose.
  • Acompanhamento psicológico:
    • Apoio emocional para lidar com infertilidade e mudanças corporais.
  • Preservação da fertilidade:
    • Em casos de tratamentos oncológicos, pode-se considerar o congelamento de espermatozoides ou óvulos.

 

Hipogonadismo Secundário

Definição e Fisiopatologia

O hipogonadismo secundário, ou hipogonadotrófico, resulta de uma disfunção no eixo hipotálamo-hipófise, levando à produção insuficiente de gonadotrofinas (FSH e LH). Isso resulta em níveis baixos de hormonas sexuais, mas com FSH e LH também reduzidos.

Causas

  1. Tumores hipofisários: Adenomas podem comprimir ou destruir células produtoras de gonadotrofinas.
  2. Síndrome de Kallmann: Distúrbio genético caracterizado por hipogonadismo e anosmia (perda do olfato).
  3. Doenças sistêmicas:
    • Obesidade e síndrome metabólica.
    • Diabetes Mellitus.
    • Doenças crónicas, como insuficiência renal ou hepática.
  4. Uso de opioides: O uso crónico de opioides suprime o eixo hipotálamo-hipófise.
  5. Deficiências nutricionais: Desnutrição ou distúrbios alimentares podem afetar a função hormonal.

Sinais e Sintomas

  • Homens:
    • Sintomas semelhantes ao hipogonadismo primário, mas com testículos de tamanho normal ou reduzido.
    • Perda de pêlos corporais e faciais.
    • Fadiga crónica e redução da energia.
  • Mulheres:
    • Amenorreia ou irregularidades menstruais.
    • Secura vaginal e redução da libido.
    • Osteoporose e aumento do risco de fraturas.
  • Ambos os sexos:
    • Sintomas psicológicos, como depressão e ansiedade.
    • Redução da densidade óssea e aumento do risco de osteoporose.

Diagnóstico

  • Exames laboratoriais:
    • Níveis baixos de FSH, LH e hormonas sexuais.
    • Avaliação de prolactina (para descartar hiperprolactinemia).
  • Exames de imagem:
    • Ressonância magnética da hipófise para identificar tumores ou anomalias estruturais.
  • Avaliação clínica:
    • História médica detalhada, incluindo uso de medicamentos e presença de doenças sistêmicas.

Tratamento

  • Correção da causa subjacente:
    • Remoção cirúrgica de tumores hipofisários.
    • Tratamento de doenças sistémicas, como diabetes ou obesidade.
  • Terapia de reposição hormonal:
    • Homens: Testosterona.
    • Mulheres: Estrogénio e progesterona.
  • Estimulação gonadal:
    • Em casos de infertilidade, pode-se usar gonadotrofinas exógenas para induzir a espermatogênese ou ovulação.
  • Modificação do estilo de vida:
    • Perda de peso, dieta equilibrada e exercícios físicos para melhorar a sensibilidade hormonal.

 

Conclusão

O hipogonadismo, seja primário ou secundário, é uma condição multifatorial que pode afetar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas, aliado a uma abordagem diagnóstica e terapêutica adequada, é essencial para minimizar complicações e melhorar os resultados clínicos. Avanços recentes na terapia hormonal e no manejo de doenças subjacentes têm proporcionado melhores perspetivas para os pacientes.

 

Referências Bibliográficas

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